Sinais
Fracos
Vermelhos, são quase ruídos na imensidão da sala de estar

No chão de madeira que eu imaginei, e o lado de fora da casa é feito de nuvens
Poucos os momentos onde se olha da janela e não se vê o condomínio, e sim o estado do espírito santo passando bem la embaixo, que naquele momento era a terra inexplorada mais quente do momento
É a nova moda querer ir pra lá, talvez se espere uma geografia com algumas diferenças substanciais das formas encontradas no sul do país
Talvez o sol bata um pouco diferente, ou melhor, acho que ele bate igual mas o formato dos morros desempenha a função de dar uma nova direção e difusão aos raios solares, criando uma nova paleta de cores a cada vez que o dia acaba ou termina.

o sinal é fraco, da televisão
o vermelho significa desligado, mas olhando agora fica difícil distinguir porque é tão fraco e por ser tão fraco instiga tanto a curiosidade
é mais fácil pra ele quando são frase, parágrafos, livros a serem analisados e categorizados em determinada era da literatura, mas isso já era demais ficava parado por horas tentando entender se estava desligada ou ligada, ou se havia um novo meio termo
que televisão complicada
ele viu que aquele meio termo sugeria uma paleta de cores parecida com o que se via numa fila de padaria, num fim de tarde do interior de um estado litorâneo talvez algumas mulheres segurando crianças, censurando algum comportamento excessivo, punindo com sussurros severos, o suficiente pra criar uma embolia no ouvido da criança e pra jogar fora a discrição que os sussurros carregam em sua natureza mas isso, ele pensou, é só uma projeção mesmo, porque nas filas da padaria ou de um mercadinho do sul do país ele sabia que podia encontrar algo assim mas daquele estado quase nada sabia e por isso podia criar uma área inteira a seu gosto, podia escolher cultura, estilo da arquitetura, principal fonte de economia
pra ele parecia que o litoral era quase inteiro uma praia, toda cercada entre a vegetação rasa e a areia
descobriu que estava jogando quase todos os elementos humanos fora

“talvez a mãe, uma criança, um atendente da padaria que é quase um holograma, acho que uma mercearia, um grupo de jovens passando ao lado, fora do comum se percebia, jovens de dimensões do tempo diferentes, isso… o tempo passa diferente lá também.
eu posso quase pintar um quadro
não posso
se pintasse, a imagem seria muito definida prefiro deixar Juliara do Norte se transformar na minha imaginação de acordo com o passar do meus dias, com a ocorrência de episódios no meu cotidiano, com as mudanças de clima, de pessoas, com o falecimento e nascimento de pessoas, com a chegada de possíveis UFO’s, a chuva de pequenos meteoros do tamanho de granitos.
Juliara vai ser o melhor lugar do mundo pra mim, o lugar em que eu sempre vou querer estar, pois cada vez que algo mudar em mim, ele vai mudar junto pra suprir as minhas novas necessidades.
Hoje eu só quero que haja uma menina e sua mãe la, a menina de alguma década, perdida no meio de 1984, grande, tocando um instrumento que dispara cores diferentes no sol, enquanto eu fico babando e sentindo a profundidade de cada nota que ela cantar ali bem perto do ouvido.
Não é o bastante?
Pensa comigo.”

A televisão precisou mesmo ser tirada da tomada porque senão as horas passariam e encontrariam aquele homem de 38 sem uma conclusão por certa no crânio, e o eco não o deixaria ir dormir. Foi uma medida fácil de ser executada, mas difícil de ser tomada, já que era tão interessante imaginar o que aquele sinal significava. Era tão prejudicial pra si que precisou fazê-lo. É uma pena, mas ele já deve ter achado algo mais saudável e bom pra sua imaginação pra fazer do que isso. Por hoje, aquela luzinha fraca seria um sinal impossível de entender, o que é bem incomum pra ele, mas algo com o qual ele conseguiu lidar. Consigar lidar com alguma coisa é bem incomum pra ele também.